Jerónimos, a Torre de Belém e o mundo

O conjunto, destes dois monumentos, representa um testemunho único e excepcional da civilização e cultura dos séculos XV e XVI, símbolos de uma visão de mundo.

Cada chefe de Estado em visita oficial a Portugal, o primeiro local que vai – mesmo antes de se dirigir ao Palácio de Belém [residência oficial da Presidência da República Portuguesa] – é ao Mosteiro dos Jerónimos. Sempre que um novo embaixador estrangeiro é nomeado para Portugal, só depois de passar pelos Jerónimos é que pode passar a exercer oficialmente a sua função. Nele, já passaram incontáveis Governantes, tal como já foi palco de assinaturas de tratados relevantes, tanto para Portugal, como para a Comunidade Europeia.

Poderemos afirmar que, o Mosteiro dos Jerónimos é a sala de visitas de Portugal.

Para o imaginário não falta sequer uma neblina mística e gelada de uma manhã de Inverno.

Na Idade Média, as areias da praia do Restelo alcançam a estrada que hoje separa o mosteiro do jardim da Praça do Império e, ao redor, nada mais há do que uma pequena comunidade de pescadores e uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Estrela.

É desta enseada às portas de Lisboa que, para além dos pequenos barcos de pesca, passavam também, as naus e as caravelas portuguesas que rumavam a mares nunca antes navegados

No início do século XVI, “para que se preste apoio espiritual aos mareantes”, D. Manuel I manda construir um mosteiro dedicado a Santa Maria de Belém no local da ermida e entrega-o à Ordem de São Jerónimo.

A cada embarque e desembarque, marinheiros e navegadores vinham assistir à missa ali e expiar os seus pecados no mosteiro – os homens do mar entrariam pelas portinholas na nave da igreja; os homens de fé pelos compartimentos junto ao claustro.

A pedra fundacional do mosteiro foi colocada a 6 de Janeiro [não se tem bem a certeza se foi em 1501 ou em 1502], data onde o calendário litúrgico comemora a adoração dos Reis Magos, os reis que vieram do Oriente para oferecer ao Menino Jesus as suas riquezas. A igreja ficou pronta em 1522. Já a construção do mosteiro levaria cerca de um século a ser concluída.

Durante o tempo de construção, os diferentes arquitetos responsáveis pela obra, procuraram atribuir um estilo de decoração que, séculos mais tarde, seria apelidado de manuelino, incorporando no gótico tardio elementos associados ao poder régio português, apontamentos naturalistas ou inspirados nas viagens marítimas. Encontram-se exemplos do estilo manuelino um pouco por todo o Portugal, mas os Jerónimos são muitas vezes apontados como a joia deste estilo exclusivamente português.

No mosteiro dos Jerónimos, não há ângulo que não surja exuberantemente ornamentado. Cada arco, coluna, janela ou pedaço de teto. Onde o olhar se demora descobrem-se gárgulas, santos, seres míticos, animais, cabos náuticos, conchas, algas, alcachofras, pinhas, videiras e outros elementos naturalistas, além da tríade do poder régio (o escudo, a cruz da Ordem de Cristo e a esfera armilar, divisa conferida por D. João II a D. Manuel I e, desde então, símbolo deste monarca) e a narração da Paixão de Cristo em painéis talhados sobre cada coluna.

Juntamente com a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos foi classificado como Monumento Nacional em 1907 e integrado na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO em 1983, enquanto “testemunho único e excepcional da civilização e cultura dos séculos XV e XVI”.

À luz de novas perspectivas sobre o período de expansão marítima e de colonização europeia – e do debate que o “Museu das Descobertas” veio reacender em Portugal – não deixa de ser curioso reler o argumentário da UNESCO na atribuição da classificação, onde são referidos “o poder, o conhecimento e a coragem do povo português num momento em que consolidou a sua presença e domínio das rotas comerciais e intercontinentais” ou o “papel pioneiro” dos portugueses “na criação de contatos, diálogo e intercâmbio entre diferentes culturas”.

Dada a monumentalidade da construção, a íntima ligação à época áurea da História de Portugal e a sua localização, tanto o Mosteiro dos Jerónimos quanto a Torre de Belém evoluíram para se tornarem nos maiores símbolos de Portugal. E verdadeiros fenómenos turísticos. No total, os dois monumentos recebem, em média, 1,6 milhões de pessoas por ano. Só o claustro do Mosteiro dos Jerónimos“é visitado por cerca de um milhão ao ano” e a igreja – de entrada gratuita e, por isso, de mais difícil contabilização – deverá receber muitos mais.

Com o objetivo de proteger esta obra, o acesso à igreja de Santa Maria de Belém passou a ser condicionado. Definiu-se que, a cada 20 minutos, entram 200 pessoas neste precioso e vulnerável monumento. Assim, tenta-se diminuir o desgaste arquitetônico e artístico, sobretudo no pavimento e do impacto na pedra dos níveis de temperatura, de humidade e de salinização provocados pelo excesso de pessoas no interior do edifício.

Continuando a viagem ao seu interior, o visitante irá ser deslumbrado com a panorâmica sobre o claustro, que se obtém da galeria superior. E subindo ao coro alto da igreja, onde ainda é possível observar o cadeiral do século XVI. Estes, foram desenhados pelo arquiteto Diogo de Torralva, e era o local onde os monges se concentravam (sete vezes por dia) para a oração comunitária, também denominada “ofício divino”, o mais importante dos deveres da ordem religiosa, caracterizada pela clausura monástica e orientação puramente contemplativa e intelectual.

No século XIX, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, os últimos monges que ainda habitavam o mosteiro terão sido expulsos (reza a lenda que a famosa receita dos Pastéis de Belém, cuja fábrica abriu sensivelmente na mesma altura, terá sido vendida pelos monges em retirada) e parte do edificado, já em avançado estado de degradação, foi reconstruído para receber as crianças da Real Casa Pia de Lisboa.

Da zona do mosteiro onde terão sido as celas dos monges e, mais tarde, os dormitórios e salas de estudo da Casa Pia, nos dias de hoje, alberga o Museu Nacional de Arqueologia e o Museu de Marinha.

Com acesso a partir do claustro, é possível visitar ainda o antigo refeitório, assim como a Sala do Capítulo, finalizada apenas no século XIX, com o intuito de acolher o túmulo de Alexandre Herculano, escritor, historiador e o primeiro presidente da Câmara Municipal de Belém, então um município autônomo da região de Lisboa.

Além do túmulo de Alexandre Herculano, estão aqui sepultados Fernando Pessoa (transladado do Cemitério dos Prazeres em 1985) e, na igreja, Luís de Camões, Vasco da Gama e, na capela-mor, mandada ampliar ao estilo maneirista por D. Catarina de Áustria, D. Manuel I, D. Maria, D. João III e D. Catarina, além de outras figuras do clero e da família real em diferentes zonas do complexo monasterial.

Torre de Belém, um símbolo

Constituído por um baluarte, de concepção mais larga e moderna, e a torre, com quatro salas abobadadas, o edifício dedicado a São Vicente, padroeiro da cidade de Lisboa, foi mandado construir por D. João II para defender a capital portuguesa contra possíveis investidas de navios inimigos, fazendo fogo cruzado com a antiga fortaleza de São Sebastião, atualmente em estado de ruína, na outra margem do Tejo; e, a Oeste, a Torre de Santo António de Cascais.

A construção iniciou- se em 1514, já no reinado de D. Manuel I, sob a batuta do arquiteto Francisco de Arruda, e ficou concluída em 1520. Embora menos exuberante, dado o carácter militar da estrutura, a decoração apresenta elementos simbólicos típicos do estilo manuelino, como esferas armilares, cruzes da Ordem de Cristo, nós e cabos.

Depois de percorremos a pequena ponte de madeira de acesso, entramos para a antiga casamata – situada no piso inferior do baluarte – onde se encontram réplicas de antigos canhões. Por baixo, os paióis foram utilizados, inclusive, durante a dinastia Filipina, como masmorras para encarcerar presos políticos. No terraço do baluarte foi instalada uma caserna para os soldados, retirada já no século XIX, quando a torre sofreu grandes obras de restauro para colocá-la mais de acordo com a planta original. São dessa altura os enormes medalhões com a cruz da Ordem de Cristo que contornam o caminho de ronda, no último piso da torre.

Entramos. No piso térreo fica a Sala do Governador (cujo palácio se encontra situado do outro lado da atual Avenida Brasília, hoje um hotel). Pela apertada escada em caracol, vamos subindo a torre. Primeiro, a Sala dos Reis, com a decoração “mais exuberante” e uma varanda ornamentada onde os monarcas viriam assistir à partida e chegada dos navios das expedições marítimas. Depois, a Sala de Audiências, com compridas “namoradeiras” junto a cada janela. E, por fim, a Sala da Capela. A visita termina no terraço, com vistas desafogadas sobre toda a barra do Tejo e a cidade de Lisboa, de Alcântara ao Palácio Nacional da Ajuda, descendo pelos bairros do Restelo até Algés, e pelos contornos da costa rumo a Carcavelos. Mesmo em frente, ao cimo da Avenida Torre de Belém, destaca-se da paisagem envolvente uma pequena ermida branca, a capela de São Jerónimo, erguida no mesmo ano em que se iniciaram as obras na torre, nos terrenos da então cerca do Mosteiro dos Jerónimos, desenhada por Diogo de Boitaca (o primeiro arquiteto responsável pela construção do mosteiro) e, entretanto, sucessivamente restaurada.

Por uma última vez, procuramos vislumbrar as areias do Tejo, pejadas de embarcações e mareantes, imaginar a Torre de Belém apartada da margem, guerreiro defensor de um novo império que se anunciava.

À volta de Belém


Museus

É uma zona de especial riqueza monumental e histórica e de tanta oferta museológica que uns espaços acabam esquecidos na sombra de outros. Mas vale a pena conhecer o Museu Nacional de Arqueologia e o Museu da Marinha, instalados no complexo do Mosteiro dos Jerónimos, descer ao Museu dos Coches ou espreitar o Museu de Arte Popular, entre o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Ou descobrir as exposições do Centro Cultural de Belém, do MAAT e do Museu de Eletricidade ou subir ao Museu Nacional de Etnologia.

Jardins botânicos

A poucos metros de distância do Mosteiro dos Jerónimos fica o Jardim Botânico Tropical, classificado como Monumento Nacional. Em cinco hectares, encontram-se cerca de 600 espécies botânicas, originárias de vários continentes e trazidas para Portugal com vista ao estudo e recolha de informação sobre a agricultura nas antigas colônias. Se estiver disposto a subir a encosta, o Jardim Botânico da Ajuda, o mais antigo do país, fica a pouco mais de 1km.

Restaurantes

Há os incontornáveis Pastéis de Belém (e os palmiers d’O Careca), claro, mas a oferta da zona é bem mais vasta e variada. No ano passado abriu O Frade, espaço pequeno, com um balcão, onde dois primos alentejanos servem petiscos e vinho da talha. Para quem puder gastar um pouco mais, no Hotel Altis Belém existe o Feitoria, um dos melhores restaurantes da capital e do país. O Espaço Espelho d’Água tem uma excelente localização e comida com inspiração das viagens portuguesas pelo mundo. Para os fãs de marisco, a zona oferece um clássico, a Nune’s Real Marisqueira.

Entre as propostas mais recentes, destaca-se ainda o Tsukiji, com uma oferta de sushi e outras especialidades japonesas.

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