URUGUAI: À Descoberta das Praias do Leste

A simplicidade sofisticada da costa leste do Uruguai surpreende a cada quilômetro de praia quase selvagem.

No Uruguai a simplicidade é uma virtude. Quando se sai do acolhedor Aeroporto de Carrasco, em vez de um complexo sistema de estradas e um emaranhado de placas de sinalização, encontra um cartaz com uma simples informação: «Para Leste». Isso é tudo e é suficiente.

Do Leste do Uruguai, o mais conhecido é a sua “Punta del Este”, mas é muito provável que a verdadeira alma deste país não esteja aí. Talvez, pelo desenvolvimento turístico exagerado de Punta del Este, o resto da costa procurou reconciliar-se com a natureza e, em vez de arranha céus de cimento e vidro, preferiu manter-se junto ao chão, em pequenas aldeias sem praças nem ruas, com casas de apenas um piso com vista de mar separadas por campos e com os faróis como únicos campanários destas terras sem igreja.

Faz sentido, portanto, que a viagem destas letras comece onde acaba Punta del Este, ignorando os seus casinos e centros comerciais, com início na fazenda Fasano las Piedras, um lugar construído no meio de um sugestivo espaço natural. Desde este promontório vanguardista do arquiteto Isay Weinfeld que parece levitar em pleno campo.

Outrora armadilha para muitos barcos, Cabo Polonio é visitado por turistas, que atravessam as dunas para ver os leões-marinhos.

Para lá da agitação de Punta del Este está a tranquilidade de José Ignacio, pequeno pueblo onde não faltam lojas de marca, hotéis-boutique, galerias de arte e restaurantes com cozinha de autor.

A somente 20 quilômetros de distância, José Ignacio é o refúgio de quem procura a qualidade longe do cimento. Tem um ambiente decididamente boho-chic [boêmio e chique] com as suas lojas de decoração e cozinha de autor nos seus restaurantes, objetos de peregrinação diária de gourmands e apreciadores de Punta del Este.

Não é por acaso que aqui se encontram três dos melhores hotéis-boutique do país: a estância Vik, a Playa Vik e o Bahia Vik. Uma trindade com sobrenome norueguês herdado de um bilionário nascido no frio com mãe uruguaia e que, de regresso à terra materna, transformou esta localidade num enclave onde a arte, a praia, a cultura gaúcha e o bon vivir dormem juntas nestas estâncias que são autênticas galerias de arte com obras de Zaha Hadid e James Turrel a adornar os corredores.

No caminho para Leste pela Estrada 10, fica para trás o distrito de Maldonado e entra-se no de Rocha, famoso pelas suas costas impolutas e pela natureza virgem. Chega-se ao balneário de La Pedrera, construído sobre uma formação rochosa e rodeado por duas espetaculares praias, a de Desplayado, para leste, e a praia do Barco, para oeste. A viagem alimenta a alma com as surpresas que se deparam pelo caminho.

Por uma pista de terra, viajamos em direção a Oceanía del Polonio em busca de alimento num lugar mágico – Chez Silvia. Aqui se começou a cozinhar slow-food antes de o conceito ter chegado ao país. Como tantos outros, os seus proprietários, uma arquiteta e um veterinário argentinos, chegaram aqui de férias e apaixonaram-se pelo mar. Aqui é normal que as sobremesas se prolonguem no alpendre de madeira, em redor da requintada comida com ar francês, dos produtos da terra e do bom vinho. Afortunadamente, quando a noite nos surpreende, a cabana tem dois elegantes quartos de onde se contempla o escuro iluminado por milhares de estrelas.

Estamos em terra de pescadores, no mar, mas também no ribeiro de Valizes.

Continuando para leste em direção a Punta del Diablo, perto da ponte sobre o ribeiro Valizas observa-se uma pequena comunidade de pescadores tratando dos seus barcos de madeira e desembaraçando as redes. É aqui, nas noites finais do verão, que estes pescadores e suas famílias irão cobrir a superfície do riacho com centenas de luzes flutuantes durante a pesca de encadeamento, apanhando os camarões que, embriagados pela luz, acabarão dentro das redes. Através desses barcos, rio acima, num trajeto de quatro quilômetros, provocando à sua passagem o voo das garças e de outras aves, chegamos ao bosque de umbuzeiros, nas zonas úmidas do leste, um capricho da natureza único no mundo. Normalmente solitários, os umbuzeiros crescem aqui em redor de um bosque envolvente de árvores gigantescas que alcançam vários metros de altura. Como se fossem mãos gigantes apoiadas sobre as pontas dos dedos, os troncos destas árvores centenários expandem- se criando um espaço vazio no seu interior para lá se encontrar a sombra que nos dá o seu abraço.

A obscuridade total da noite é interrompida por um clarão que cega a vista. Um relâmpago que se repete a cada 12 segundos e que supõe a diferença entre a vida e a morte para as embarcações que se aproximam da costa.

Barcos espanhóis, portugueses e britânicos encontraram o seu fim nestes recifes e alimentaram a lenda, entre os marinheiros, de lugar maldito onde as bússolas não param de girar incapazes de encontrar o seu norte.

Com 26 metros de altura, o farol de Cabo Polonio ergue-se como um bispo do xadrez protegendo a reserva natural onde está localizado. Imortalizado nos versos do cantor uruguaio Jorge Drexler no tema 12 Segundos de Oscuridad, hoje é o promontório ideal para avistar leões-marinhos com os seus imensos corpos castanhos disfarçados pelo tom das rochas dos baixios.

Hoje, os camiões todo-o-terreno que transportam viajantes pelas dunas e pela madressilva do Parque Nacional de Cabo Polonio multiplicaram-se.

O farol que em tempos era a única proteção dos marinheiros, e ainda hoje ilumina a noite a cada 12 segundos, domina o promontório do Parque Nacional de Cabo Polonio.
A chegada ao átrio de areia que faz as vezes de centro do lugar é um apeadeiro de anticlímax de turistas que vêm passar o dia para contemplar, com igual fascínio, os exemplares de leões-marinhos e de hippies agarrados aqui ao seu último reduto como se fossem peles vermelhas numa reserva e com a implacável sensação de que o seu estilo de vida tem os dias contados. Felizmente, o pôr-do-sol faz que regresse a ordem natural e com a saída do último camião – e com os os turistas apressando-se para não perdê-lo – Cabo Polonio volta a encontrar-se. Os seus habitantes reúnem-se em torno de fogueiras na praia com a viola e o chá-mate à mão e com o aroma da marijuana acabada de acender em cigarros que passam de mão em mão e cujas baforadas de fumo se iluminam a cada 12 segundos atravessadas pelo clarão do farol que marca o palpitar da noite.


No limite do Parque Nacional Cabo Polonio encontra-se a zona balnear de Barra de Valizas. Este encantador povoado de casas de madeira plantadas na areia, sem luz elétrica nem água corrente – na maioria das habitações –, acorda cada manhã com a visão das impressionantes dunas de trinta metros de altura que o separam dos seus vizinhos de Cabo Polonio. Este inesperado horizonte de areia, mais próprio do deserto africano, estende-se por 42 quilômetros quadrados e constitui uma das paisagens naturais mais impressionantes da América do Sul. O ribeiro Valizas é o último obstáculo entre nós e essa colina de formas sinuosas e variáveis. Por alguns pesos cruzo, numa pequena embarcação de um velho pescador reconvertido em barqueiro, este curto trajeto. A ascensão à duna é lenta devido ao forte vento que a penteia e que sussurra ao ouvido com milhões de finíssimos grãos de areia sobrevoando a cabeça. No topo, um casal imortaliza o seu beijo com sabor a areia numa selfie. Um pouco mais à frente, o declive de granito totalmente coberto de areia do Cerro de Buena Vista converte-se na pista perfeita onde vários jovens se lançam com as suas pranchas praticando sandboard. É precisamente neste monte que se marcou o limite entre os territórios pertencentes às coroas de Portugal e de Espanha, no Tratado de Madrid de 1752. O monumento original já não está aqui, mas ainda é possível observar entre as pedras a base de onde se levantava essa barreira imaginária que repartia a América Latina entre os dois grandes senhores do mar de antigamente.

A convergência de ambas as faces da duna forma um estreito cume por onde caminho como se andasse sobre a espinha dorsal de um gigantesco animal pré-histórico. Desde aqui avista-se Cabo Polonio e até lá é possível chegar por um caminho de oito quilômetros a pé entre dunas ou no dorso de um cavalo, numa viagem com ecos de Lawrence da Arábia.

De regresso ao povoado, a quase decadente placa da Praça de Leopoldina Rosa recorda-nos o passado de uma costa forjada a ferro pelos naufrágios. Muitos navios descansam no fundo de uma costa de onde saem tridentes de rocha dispostos a emboscar as embarcações. Em 1842, a fragata Leopoldina Rosa com 300 pessoas a bordo conheceu aqui o seu fim. Dos 79 sobreviventes que fizeram do naufrágio a sua casa, sobram famílias de descendentes que ainda receiam este mar de ondas furiosas.


Cai a tarde e já falta pouco para chegar ao meu último destino. Punta del Diablo recebe-me como só ela sabe fazê-lo: com um espetacular entardecer desses que tingem o céu de um rosa intenso primeiro e que se vai transformando em laranja e depois anil. Envolto nesta paleta de cores, desenham-se as silhuetas das casas de madeira e os botes na praia dos Pescadores. Punta del Diablo, com as suas ruas de areia e as suas praias eternas, é hoje a meca dos mochileiros da Argentina e do Brasil e o seu fluxo transformou esta tranquila vila de pescadores numa localidade sem tréguas onde as noites correm nos bares de praia.

Amanhece em Punta del Diablo. Uma viagem curta, sossegada, onde a serenidade toma o lugar da epopeia e a aventura consiste tão-só em circular sem relógio, deixando-nos levar sempre para leste, como se os sentidos estivessem aguçados para nos deixarmos surpreender por alguma natureza ainda pura. Contemplando a espuma branca das ondas que rompem na praia da Viúva, damo-nos conta de que o prêmio desta viagem não é tanto o destino final, mas sim o caminho.

Guia do Uruguai
Moeda: peso uruguaio UYU – 1 euro equivale a UYU
Fuso horário: GMT -3
Idioma: castelhano
Quando ir: no verão, de dezembro a fevereiro. Novembro e março são boas opções, com menos gente, mas em novembro a temperatura pode requer alguma coragem adicional.

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